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Reflexões Quaresmais.

  • Foto do escritor: Paróquia São Jorge
    Paróquia São Jorge
  • 12 de fev. de 2021
  • 8 min de leitura

ANO JUBILAR (CEM ANOS) DA ARQUIDIOCESE DE BELO HORIZONTE

SUGESTÕES PARA UMA VIVÊNCIA PESSOAL DURANTE A QUARESMA NO ANO JUBILAR

(texto de Pe. Judas Tadeu Vivas).

Introdução

Nascemos da ressurreição de Cristo e os próprios Evangelhos foram escritos à luz da fé pascal. Por isso, o tempo litúrgico principal, no ano da Igreja, é o da Páscoa: a celebração deste mistério é o cume de nossa vida cristã, de nossa fé. Tudo para ele converge e dele recebe a graça.

Nossa Igreja particular está completando cem anos e um aspecto importante de uma Diocese, sem dúvida, é a vivência da Páscoa, tempo em que buscamos a unidade (vejam a 5ª feira santa, com uma única celebração na parte da manhã em torno do bispo) e, também, a raiz da formação de uma Igreja: geração de novos cristãos, comunhão com o Bispo, conversão dos catecúmenos à fé cristã e conversão quotidiana de toda a comunidade que descobria, através de novos membros, sem cessar, a novidade de Cristo Ressuscitado.

A Quaresma, então, não existe em função de si mesma, mas da Páscoa: ela nos prepara para a Páscoa. Deve ser considerada como um verdadeiro colocar-se em marcha, o fazer um bom caminho tanto para a celebração anual como para a Páscoa definitiva.

Durante os quarenta dias quaresmais, mais do que para fazer “coisas” e penitências, somos convidados a transformar este caminho em:

Tempo de partilha e de solidariedade - abertura para as dimensões do mundo.

Tempo de interioridade - momento privilegiado de maturação e de conversão do coração.

Tempo de comunhão – as celebrações eucarísticas, a vivência do sacramento da Reconciliação, o Ofício Divino e a religiosidade popular devem levar-nos a um aprofundamento da esperança pascal, verdadeiro caminho espiritual para nossas comunidades.

Solidariedade e partilha,eis o que nossa sociedade mais precisa.

Comunhão e verdadeiro espírito de interioridade, eis dois pilares do serviço que podemos prestar à nossa sociedade.

Devem auxiliar-nos a percorrer este bom caminho o jejum, a esmola, a oração e, no Brasil, a Campanha da Fraternidade. Não como “coisas” a serem feitas, mas como apetrechos que nos ajudem a viver este tempo de partilha, de solidariedade, de interioridade e de comunhão como tempo de verdadeiramente concretizar o grande mandamento: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.


Neste mandamento temos a base do fazer o bom caminho pascal: ajustados conosco, ajustados com Deus e ajustados com o outro.Viver como Igreja, comunidade diocesana, exige conversão quotidiana, um ajustamento constante consigo, com Deus e com os outros.


  • Amar como a si mesmo– ajustado consigo: caminho na busca de um eu equilibrado, integrado, que não busca ser o centro da história, mas que reconhece sua capacidade, sem falsa humildade, e sem negar sua humanidade, sem cair na obsessão de que nada vale. Caminho de busca para se chegar, na Páscoa definitiva, ao homem perfeito sonhado por Deus e mostrado por e em Jesus Cristo.

  • Amar a Deus–ajustados com Deus:caminho de busca de Deus sem fanatismos, sem fundamentalismos, sem reacionarismo. Buscar fundamentar o relacionamento com Deus numa verdadeira interioridade que não seja transformada em subjetivismo e satisfação egoísta, em catarse.

  • Amar ao próximoajustados com o outro. Ajustados conosco e com Deus, não podemos deixar de lado nossos companheiros e irmãos em humanidade, vivendo uma fraternidade em pé de igualdade. Não se pode viver a verdadeira fraternidade se não estamos ajustados com Deus e conosco. O próximo não pode servir de escada para chegarmos a Deus, não é uma mercadoria para enriquecer o nosso eu e não pode ser instrumento de nossa ânsia de termos dependentes sob nossa guarda.


O ajustamento consigo, busca de como podemos ser nós mesmos, tem quatro instrumentosa serem utilizados nos dias de carnaval: uma reflexão, um pouco mais longa, e três pequenas frases de autores diferentes.

O texto mais longo pode ajudar-nos muito neste primeiro ponto, pois trata de nossas capacidades pessoais, de nossa afirmação como pessoa e de construção de uma espiritualidade integrada a nossa humanidade, campos frequentes de lutas e preconceitos e as três frases podem ser assim intituladas: Sede vós mesmos.

O ajustamento com Deus, construção de uma verdadeira interioridade, pode ter como ponto de reflexão o que nos indicam os dias de cinzas (4ª, 5ª, 6ª e sábado); o que nos podem inspirar as orações iniciais dos dias da 1ª semana da Quaresma do ciclo b (1ªsemana) e pequenos comentários sobre os Evangelhos da segunda semana do mesmo ciclo (2ª semana).

O ajustamento com o próximoserá o tema da 3ª semana da quaresma. Inspiram a reflexão: um texto sobre a fraternidade cristã, uma ilustração com um quadro de Giotto e uma pequena meditação sobre a esmola.

Estes ajustamentos, no entanto, alcançarão seu objetivo se foremrevestidos pela Lei de Cristo (Sermão da Montanha) 4ª semana e o sentido da Cruz com o testamento-sumário da espiritualidade pascal dado por Cristo através de suas palavras na Cruz – 5ª semana, Domingo da Paixão (Ramos), 2ª e 3ª feiras da Paixão.

Para concluir todo o percurso, na 4ª feira da Paixão, debruçamo-nos sobre uma belíssima oração atribuída a Santa Brígida.


1. Ajustamento consigo(durante o carnaval)

1.1. Ser capaz, ser reconhecido

Nós somos seres de capacidades, o que pode ser reconhecido por nós mesmos e pelos outros. É normal que busquemos ser reconhecidos. Nossa identidade e nossa dignidade muito dependem disto. E isto é bom e é normal. E a luta pelo reconhecimento trava-se em diversos campos.

1.1.1. Paul Ricouer, grande filósofo, em seu discurso, quando recebeu o prêmio Kluge, disse: “Ela (a luta) começa pelos relacionamentos afetivos ligados à transmissão da vida, à sexualidade e à filiação. Atinge seu auge no cruzamento das relações verticais de uma genealogia e das relações horizontais de conjugalidade que têm por quadro a família.

Esta luta pelo reconhecimento prossegue no plano jurídico dos direitos civis, centrados nas ideias de liberdade, de justiça e de solidariedade. Os direitos não podem ser reivindicados para mim se não são reconhecidos para os outros em pé de igualdade. Esta extensão das capacidades individuais do âmbito da pessoa jurídica concerne não só à enumeração dos direitos cívicos, mas à sua esfera de aplicação às categorias novas de indivíduos e de poderes até então desprezados. Esta extensão é ocasião de conflitos tratando-se de exclusão ligada às desigualdades sociais, mas também às discriminações herdadas do passado e que atingem ainda diversas minorias. Mas o desprezo e a humilhação atingem o vínculo social em um plano que excede o dos direitos; trata-se da estima social que se liga ao valor pessoal e à capacidade de se buscar a felicidade segundo sua concepção de viver bem. Esta luta pela estima tem por quadro diferentes campos da vida; assim, na empresa, a luta por conquistar, proteger seu lugar na hierarquia de autoridade; no acesso à moradia, as relações de vizinhança e de proximidade e os múltiplos encontros em que a vida cotidiana é tecida. Estas são sempre as capacidades pessoais que buscam ser reconhecidas pelo outro”.

1.1.2. Mas, para ser reconhecido, é necessário buscar o 1º lugar, passar por cima dos outros, desbancá-los e descartá-los? Querer o poder? Cada um deve ocupar seu lugar que necessariamente não é o primeiro.

Leia atentamente o Evangelho de São Marcos 10,35-45.

Tiago e João sonham com o poder. Eles querem ministérios importantes no Reino que eles ainda julgam ser a restauração do reino de Davi.

Jesus, porém, coloca-se como o Servo e não como sedento de poder.

Para que possamos combater toda sede de poder, de busca de reconhecimento e prestígio a qualquer custo, devemos superar algo que é como um vírus mortal em nossas sociedades e que devora o ser: parecer, a imagem que se quer apresentar vazia de substância. Há um dito bem significativo: “A arte e a mentira que perpassam as relações colocando um véu entre a pessoa e o outro são menos perniciosas do que as que reduzem o ser a suas aparências”.

Leia, também com atenção, o Evangelho de São Marcos 12,38-40

Viver de aparências não só desfigura a beleza do rosto humano, mas também adultera a face de Deus segundo a qual fomos criados. Pode ser uma tentação a assediar-nos!

Devemos, portanto, rezar esta bela oração de autor desconhecido:

Andar com roupas vistosas...gostar dos cumprimentos nas praças...

O orgulho não é somente o quinhão de teu tempo, Senhor.

Ele nos ameaça a todos, mais ou menos sorrateiramente.

Quem não foi tentado para buscar os primeiros lugares,

para forçar um pouco a dose na necessidade para receber elogios,

para buscar (humildemente!) a admiração dos outros?

Tu, Senhor, não reivindicaste teus direitos de Filho de Deus,

mas tomaste a condição de Servo (Fl 2,6);

Livra-nos de toda vaidade, de todo orgulho;

Ajuda-nos a servir nossos irmãos com fé, como tu!


1.1.3. Para que possamos fazer nossas capacidades darem bons frutos, para sermos reconhecidos em nosso valor sem a ilusão do parecer e, portanto, construirmos equilibradamente o nosso eu para amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, devemos ter consciência de três características fundamentais na vida cristã: caminho, caminho que passa pela rua, caminho para o Pai.

1.1.3.1. Caminho: não somos Anjos, mas pessoas humanas. Na construção de nossa identidade, devemos sempre estar a caminho, com tudo o que isto implica.

Muitos conhecem a famosa obra de Saint-Exupéry, O Pequeno Príncipe. Nela, encontramos um diálogo bem significativo, quando o Príncipe deixa seu planeta e encontra um vendedor de pílulas:


- Olá, bom-dia! - disse o pequeno príncipe.

- Olá, bom-dia! - disse o vendedor.


Era um vendedor de comprimidos para tirar a sede. Toma-se um porsemana e deixa-se de ter necessidade de beber.


- Por que vende isso? - perguntou o pequeno príncipe.

- Porque é uma grande economia de tempo, respondeu o vendedor.

- Os cálculos foram feitos por peritos. Poupam cinquenta e três minutos por semana.

- E o que é que se faz com esses cinquenta e três minutos?

- Faz-se o que se quiser...


"Eu", pensou o Pequeno Príncipe, “se tivesse cinquenta e três minutos para gastar, andaria devagarinho à procura de uma fonte..."


1.1.3.2. Caminho que passa pela rua: A serva de Deus, Dorothy Day, tem esta afirmação:

“Para chegar ao homem da rua há que sair à rua, onde o Cristianismo pode ser um sinal de contradição... Na Idade Média, quando uma em cada quatro pessoas padecia de lepra, somente na França existiam dois mil leprosários dirigidos por religiosos. Pode ser que semelhante comparação tenha algo de aterrador, contudo, se hoje em dia se constata que um em cada cinco trabalhadores carece de emprego, parece-nos uma tragédia equiparável”.


1.1.3.3. Caminho para o Pai: O padre Jean Lafrance, em seu livro, “PrietonPèredanslesecret” diz:“Com certeza que Jesus é o sentido último da tua existência e só nele encontrarás o teu desabrochar como homem...” e acrescenta: “Jesusé o caminho a verdade e a vida. O seu único objetivo é fazer-te passar deste mundo para o Pai. Sem esta abertura para o Pai, tua vocação de batizado é incompreensível” e conclui, convidando a avançar: “É preciso até ir mais longe: a tua própria vocação de homem fica mutilada se não estás aberto a uma relação filial de adoração ao Pai. Ao inserires-te em Cristo ressuscitado, que orienta espontaneamente a tua vida para Pai, ficas integrado numa nova plenitude e num humanismo transcendente. Serás tanto mais tu, quanto mais permaneceres no Pai em Jesus”.

1.2. Sede vós mesmos

1.2.1 – 1ª frase


”Tal é o duplo efeito da glória da Transfiguração : Permitir a cada coisa e a cada pessoa apresentar-se em toda a sua particularidade, em sua essência única e que não se pode reproduzir e ao mesmo tempo torna cada coisa e cada pessoa transparente, capaz de revelar a divina presença para fora e para o seu próprio interior » (K. Ware).


1.2.2 – 2a frase

“Sede vós mesmos a transformação do mundo que desejais ver acontecer” (site Le Jardinier de Dieu)

1.2.3 – 3ª frase

“Há uma lei misteriosa, mas bem real, que liga a transformação das estruturas econômicas e políticas e a transformação pessoal” (Gandhi).


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